9.12.13

Perdi a conta




Perdi a conta.
Todas as vezes...

De quantas tardes,
tua sandália ficou na porta.
Tem torta de chocolate, e agora?!
Lá fora até o cachorro late,
em Latim.

Perdi a conta
das vezes que te vi assim:
Nos medos do homem,
a coragem do moleque.

Kurosawa pintou sonhos
na tela. Na sala, tua arte.
Um presente no passado,
mil certezas no futuro.

Perdi a conta
das horas tristes,
dos dias felizes.
Sempre aqui, sempre perto.

Só não perdi o endereço
Do teu abraço,
do teu braço,
meu irmão.

Perdi a conta da Lealdade.
Da amizade. Cumplicidade.

Perdi a conta
do quanto te amo...
Mas por favor, não conta!

Não conta pra ninguém,
porque desfazer de você
é minha maior felicidade.
Maldade de irmã,
senhora-dona-da-verdade.

Que se destrambelha,
velha, quer ser moleca
pra brincar de bem-querer!

Perdi a conta
do quanto nos devemos...
Não havia como pagar
a alegria de te viver.
De te ver viver.



***





28.11.13

Lulu. Um aplicativo para mulheres?



"Quando nascemos
fomos programados
A receber o que vocês
Nos empurraram com os enlatados
Dos U.S.A., de 9 às 6.

Desde pequenos nós comemos lixo
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo
em cima de vocês"

Geração Coca-Cola
Legião Urbana


É uma pena que muitas pessoas desta geração não reflitam mais sobre nada, engulam tudo que é importado, principalmente o que é norte-americano. O aplicativo Lulu, tão defendido pelas garotas é mais uma dessas porcarias americanas que tem como única intenção VENDER.

É só um produto, mais um...


Um produtor opressor, que trata o ser humano como objeto, passível de ser classificado, pontuado, definido por palavras de baixo calão. As usuárias do aplicativo para celular referem-se aos homens em aspectos sexuais e comportamentais da forma mais vil, comparada às práticas que o Patriarcado vem impondo à nós desde sempre, tudo aquilo que sempre questionamos, que sempre nos ofendeu, hoje é usado contra os homens. Será mesmo que esta é uma ferramenta útil na luta contra a violência de gênero? Me pergunto em quê um aplicativo como este pode contribuir com a nossa vida. E, se é inútil, porque continuar a utilizá-lo?! A geração que não reflete continua caminhando em direção o abismo da ignorância e apatia...


As mulheres brasileiras precisam sim de um aplicativo só pra elas, um que seja sigiloso e seguro, com intuito de denúncia onde nós possamos alertar as outras mulheres sobre os muitos estupradores e espancadores que estão entre nós, disfarçados de bons garotos.

Gatas, falar de como o boy é na cama não nos faz seres humanos melhores ou mais fortes. Somos muitos mais que isso. A tecnologia deveria ser uma ferramenta para que nós ao menos tentássemos compensar os últimos 5.000 anos de Patriarcado, de dominação, exploração e abuso. Nós só a utilizamos como lazer. Sempre achei que o lazer era o descanso de quem produz, nesse caso o lazer é apenas mais do mesmo, é ócio improdutivo, hoje a inutilidade humana chegou à níveis surpreendentes.

Precisamos, com urgência de Valores, de Amor e de uma luta COERENTE pela Igualdade e não de mais um produto que só vai fazer de nós marionetes do mercado e intensificar a "guerra dos sexos" que dá tanto lucro ao mercado.

Atenção mulheres, cuidado para não continuarem se entregando à opressão por vontade própria, ou seria apenas alienação mesmo?

Pobre Luluzinha, virou referência para algo tão sem sentido, logo ela...

______________________

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Tudo que as garotas fazem no Lulu é privado e anônimo. Sua atividade no Lulu jamais irá parar no mural de alguém no Facebook ou nas mãos do cara que você está a fim.

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27.11.13

Eu sou neguinha!

“Nascer negro é consequência.
Ser é consciência”.

Sergio Vaz, poeta.


Novembro termina sob ameças de ser pintado de azul, mas o novembro será sempre Negro apesar de Zumbi ser homem... Os homens que se cuidem, porque os negros nunca desistiram de lutar.

Vocês sabiam que sou negra? Não me lembro de ter falado sobre isso antes mas, pra quem ainda não sabe, "eu sou neguinha"! Não falo porque não acho que cor de pele seja algo relevante quando o assunto é gente. Gente é bom de toda cor e se fosse colorido seria melhor ainda, eu mesma queria ser vermelha com listrinhas amarelas e manchinhas verdes, mas nasci assim, com pouca melanina e muita adrenalina.

Frequentemente me corrigem:
- Você não é negra, menina! É tão branquinha...
- Dá licença...

Não é você quem vai me dizer o que sou. Eu sou o que sinto e ponto.

Acho um desperdício essa mania que algumas pessoas tem de ficar definindo o que pode e não pode. Para mim, isso é racismo velado.

Sou negra e sempre me corrigiram afirmando que, no máximo, sou "parda" ( num sei nem o que é isso...) em virtude do meu tom de pele. Sinto muito pela ignorância alheia, mas qualquer racista que olhe pra mim vai discordar automaticamente de minhas compatriotas que afirmam que sou "tão branquinha". Sou negra e faço questão de me afirmar enquanto NEGRA.

Sinto e sei que vou sentir a vida inteira o peso do racismo. Só eu sei quantas portas de emprego se fecharam para em seguidas terem seus contratos assinados por loirinhas de cabelo liso (chapinha? não importa). Lembro com tristeza das famílias dos namorados brancos que tive fazendo cara feia quando eu chegava e dos comentários que "sem querer" ouvi. Lembro de tantas coisas que preferia esquecer e que se não fosse a força da ancestralidade de meu povo, garantindo dentro de mim a força necessária, eu não teria conseguido. Um toque de afoxé certa noite me deu a esperança que precisava pra continuar, pra me sentir bonita, para ter coragem de encarar o mundo, sendo como sou: Uma mulher negra.

As pessoas costumam confundir alhos com bugalhos.

Estátuas brancas de Iemanjá são uma afronta, mas uma branca de turbante, não. Dizer que ela está
 se "apropriando da identidade negra" é excesso e um certo racismo. Não é possível se apropriar da identidade negra, isso é sentido, vivido, é doloroso e majestoso. Tá no sangue. Não podemos dizer o que as pessoas brancas podem ou não podem usar, oxalá pudéssemos todas nós nos vestir como bem entendemos sem discriminação. Não preciso da sua tolerância, só quero de volta a liberdade que me tomou. É minha, terei de volta.

Queria que todas e todos pudessem usar o cabelo que acham bonito, usar a roupa que queremos, enfim, ser quem somos. Sem a mídia ou as intelectuais pra dizer o que é certo ou errado.

Sou importunada pelos negros cotidianamente por ter um tom claro na pele, discriminada desde a infância pelos brancos por ter os traços dos negros…. Sinceramente, deixem-me em paz!

Sou negra porque quero ser, me olhei no espelho e percebi o óbvio, aquilo que os negros racistas teimam em não querer ver. Eu escolhi ser negra, mesmo já sendo.

Sinto dentro de mim a ancestralidade do meu povo e ninguém vai me definir, eu não preciso. Uso turbante e cabelo crespo porque sou bonita assim, pinto meus "beiços" e vou pro afoxé, ergo meu punho de pele clara e vou pra rua, para o enfrentamento com quem não aceita o diferente. Quem vai me impedir? sou o que quero ser e tenho orgulho.

Como diria o irmão Martin “I have a dream…”

7.11.13

FelizIdade




Quero um relógio.

Mas pouco importam as horas...
Quero ser Senhora do meu Tempo
ver passar segundos à contento
no alento da certeza
que a Fé não enganou.

Lá fora, no Jardim, a Amora

é adornada como Iroko.
Meu tempo já não vai embora...
Quero, de hora em hora,
poder vê-lo passar.

No braço, quero o abraço do orixá.

No compasso dos ponteiros
ver o mundo inteiro se afastar
pra brincar de ser criança
e na dança de ciranda, cirandar.

O Tempo, esse Senhor,

trouxe o Poeta Amado,
desejado dia a dia
na melancolia do passado.

Ando na vontade infinita

da bendita felicidade.
Noutros tempos andei
pelas ruas da cidade,
sem saber das horas
nem entender essa demora
da sonhada Liberdade.

Hoje, acabou bem na hora

e ontem foi um sonho ruim.
É do amanhã que Tempo fala:
Da sala cheirando à café,
da solidão que chegou ao fim.















3.10.13

Ao mesmo tempo que a vergonha se instalou em muitos de nós, professores, em contrapartida, é com enorme orgulho que, ao saber das notícias dos confrontos no Rio de Janeiro, percebo que ainda podemos mudar muita coisa, nosso papel na sociedade continua intacto.
Somos formadores, preparamos profissionais para o Mercado e cidadãos para a Sociedade, enquanto mantivermos erguidas as nossas cabeças poderemos enfrentar o status quo. Morrer, para defender a Educação nunca será um prejuízo, que Elizabeth seja, assim como a nossa, a Teixeira, um símbolo da Luta do Povo.
Saudações a quem tem coragem!

27.9.13

De volta.



Se me desloco
a direção

é sempre a mesma:

a tua.

São viagens. 
Um corpo 
de encontro 
ao outro. 

Se espero, 
tua rota gira. 

São passagens. 
Um sonho 
completando 
o outro. 

De volta 
a falta que faz 
tua pele nua. 

Idas e vindas, 
minhas e tuas. 

São muitas viagens...
Caleidoscópio vivo,
no espelho
dos teus olhos.




26.9.13

Somos todas Clandestinas


Dia desses ouvi um o julgamento pessoal de que a morte da genitora é preferível à do feto. Fiquei chocada, claro! Cada dia entendo menos essa sociedade em que vivemos, tão materialista e vivendo sempre em função do capital, do lucro.

Há relatos históricos de que, se uma indígena brasileira estivesse em situação de perigo ou iminência de guerras entre tribos, elas abortavam. Elas guerreiam junto com toda a tribo e em outro momento engravidam novamente. Me parece muito mais lógico.

O feto só é mais importante do que a genitora na nossa sociedade, cristã e capitalista, na qual as mulheres não tem direitos de escolha sobre seus próprios corpos e que o sistema prefere a mão-de-obra mais jovem do que a mais velha. Só para registro: Nós mulheres, não somos fábricas de operários para o Sistema e nem muito menos posse ou produto para que a sociedade escolha o que faremos com nossas vidas!

Ninguém tem o direito de achar ou não-achar nada quando o assunto é o corpo da outra pessoa. As mulheres são livres, sempre fizeram aborto e vão continuar fazendo queira a sociedade brasileira assumir isso ou não. A questão não é concordar ou não com o aborto, a questão é que todos os anos, centenas de mulheres morrem ao fazer aborto ilegal.

Qual a nossa posição sobre isso? As mulheres ricas vão às clínicas particulares e fica tudo bem. Mas e as pobres? Não é dever do Estado, à quem essa mulher pagou impostos a vida inteira, atendê-la no pior momento de sua vida?

De Livre à Clandestina, no intervalo de um ciclo menstrual, 28 dias e sua vida estará mudada para sempre... Alguém sabe o que é isso? Alguém sabe o que é ser ridicularizada publicamente APENAS porque escolheu fazer o que bem entender com o próprio corpo, sem se preocupar com o que diz a Sociedade? Só uma mulher sabe o tamanho da pressão que sofre, inclusive de outras mulheres.

O aborto, para muitas dessas meninas, algumas menores, pretas e pobres, não é escolha, é consequência. Consequência das pressões culturais, econômicas e sociais que são impostas diariamente às mulheres.

Para muitas de nós, a gravidez, pode não representar "uma bênção", "um presente", apesar da maravilha que é poder gerar um filho, em muitos casos essa gravidez vai representar muito mais sofrimento. Sem a menor intenção de estimular as mulheres ao aborto como método anti-concepcional, ao contrário do que se pensa, o aborto é algo que as mulheres NÃO QUEREM, mas que, mesmo assim, muitas vezes PRECISA ser feito. Não cabe à nós o julgamento sobre se deve ou ou não ser feito, elas tem feito independente do que você ou eu pensamos sobre isso e precisam ser atendidas pelo SUS, é uma questão de saúde pública, não podemos deixar que as mulheres continuem morrendo por tentar interromper uma gravidez indesejada.

Todos os dias, mulheres casadas vêem sair da boca de seus "maridos" que "não é o momento" de ter outro filho. Diariamente mulheres casadas são levadas ao aborto clandestino porque aquele que deveria ser seu "companheiro" é covarde e prefere que suas mulheres vão para a mão de açougueiros em clínicas clandestinas. Até quando?


Deixemos de hipocrisia. Nelson Rodrigues, que não gostava muito de feministas, disse certa vez que "Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém". Entender essa moral pitoresca que impregna nossa sociedade é um desafio.

As mulheres que abortam são suas amigas, suas filhas, suas irmãs, namoradas, esposas e, pasmem, até suas mães. Essas mulheres têm se submetido à procedimentos caseiros, clandestinos. São nossas mulheres que estão morrendo...

O aborto, apesar de crime, é praticado em todas as camadas sociais, inclusive em comunidades religiosas. Mas quem é que não sabe disso, não é mesmo?!

Todos sabem. Muitos se omitem.

Enquanto isso as mulheres morrem.

Somos todas Clandestinas.
























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Mais informações:

Toda mulher em processo de abortamento, inseguro ou espontâneo, terá direito a acolhimento e tratamento com dignidade no Sistema Único de Saúde (SUS). É o que garante a Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento, criada pelo Ministério da Saúde em 2004. A iniciativa teve como base estatísticas que revelam as complicações decorrentes de abortos inseguros como a quarta causa de morte materna no País. 

O código penal brasileiro só permite a realização de abortos que tratam de riscos de morte para a mulher ou de gravidez resultante de estupro. A constituição federal também garante a saúde como um direito de todo cidadão. "Em respeito à constituição brasileira, a função do SUS é atender toda a população em situação de risco", conclui Regina Viola. "A elaboração da norma é uma das ações estratégicas do Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna, lançado no passado, que contou com a adesão da sociedade civil e das secretarias de saúde", completa. 

Números - Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) metade das gestações é indesejada e uma a cada nove mulheres recorre ao aborto. No Brasil, os cálculos mostram que o índice de abortamento é de 31%. Ou seja, ocorrem aproximadamente 1,44 milhão de abortos espontâneos e inseguros com taxa de 3,7 para cada 100 mulheres. A gravidade da situação do abortamento também se reflete no SUS. Só em 2004, 243.988 mulheres foram internadas para fazer curetagem pós-aborto. 

Fonte: Portal do Ministério da Saúde do Governo Federal

















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História do Aborto

29/07/2010
A questão do aborto é muitas vezes consideradas uma questão moral, uma questão apenas da vida do feto, mas tem várias outras questões históricas, políticas e sociais que também precisam de atenção numa consideração do assunto. O aborto nem sempre era proibido como hoje em dia, na realidade o aborto era aceito nas sociedades antigas e pré - industriais no mundo inteiro, incluindo o mundo cristão. Também nas sociedades indígenas o aborto era conhecido e usado freqüentemente; num estudo de 400 sociedades "primitivas" só tinha uma que desconhecia o aborto, e até hoje o uso de ervas e comum na nossa sociedade. Nas sociedades humanas primitivas, as mulheres usavam esse conhecimento de ervas, tanto anticoncepcionais quanto abortivas para controlar o números de filhos que elas tinha. A mulher era livre e tinha poder econômico e político dentro do clã e geralmente controlava a agricultura e a medicina. Mas enquanto a prática de aborto era livre dentro das sociedades privativas, com o começo da sociedade privada e a formação do estado, as mulheres foram perdendo suas independência e seus controles sobre seus próprios corpos.


As atitudes sobre o aborto sempre tinha a ver com as condições econômicas do lugar, quando as mulheres tornaram "propriedades" dos seus maridos. O feto também foi tratado como propriedade. Pôr exemplo, na lei hebraica eles não falam de aborto provocado pela mulher, mas condenam o aborto provocado pela violência, não como uma morte, mas como "um dano econômico contra o marido da mulher". Do mesmo modo, tanto na Grécia quanto na Roma antiga, o feto era considerado parte do corpo da mulher, e então parte da propriedade do homem. Geralmente o aborto era permitido (com a permissão do marido) porque era necessário para o controle de natalidade; os pensadores Hipócrates, Sócrates e Platão apoiavam e até davam conselho sobre métodos. Mas em alguns lugares na Grécia eles proibiam o aborto, como pôr exemplo em Macedônia  porque queriam criar um maior números de atletas e guerrilheiros.

Assim os estados emergentes proibiam e permitiam o aborto dependendo das necessidades deles, usando os corpos das mulheres como instrumento de produção.

A crendice da época era que o feto recebia alma, ou foi "animado" depois de 60 dias, e que até esse ponto era aceitável fazer aborto. Os cristãos pegaram essa mesma ideia e ficaram com ela até 1588 quando algumas correntes da igreja começaram a dizer que todos os abortos eram crimes. Mas essa mudança de ideologia não apenas moral; durante essa época a igreja e o estado estavam uma guerra contra as mulheres pôr razões políticas e a posição contra o aborto, era apenas mais uma maneira de tirar o poder das mulheres. Alicia non Grata descreve as condições da época; "A maioria das pessoas tem ouvido falar das caças as bruxas, da inquisição e outros crimes terríveis cometidos em nome de "Deus", mas não fazem ideia de que a caça as bruxas dos séculos 14 e 17 não vinha de "um populacho louco", envenenamento de ergot ou comportamentos extremos levados pela superstição ou pelo medo, mas planos bem executados de extermínio com o objetivo de apagar o poder das mulheres e esmagar as revoltas dos camponeses... A caça as bruxas era uma campanha bem organizada, iniciada, financiada e executada pelo estado e pela igreja. As caças mais virulenta era associadas com períodos de motins sociais, agitação nas raízes do feudalismo, revolta de massa e conspirações camponeses (as), o começo do capitalismo. Também tem evidencia que em algumas áreas a pratica de "bruxaria" representava uma rebelião dirigida pelas mulheres. Nessa época as mulheres ainda tinha poder consideráveis, elas eram as médicas do povo, elas tinham o direito de fazer leis (na Inglaterra) e elas se encontravam em grupos para se discutir conhecimento das ervas, notícias e atividades políticas.

O Estado e a igreja entenderam que essa autonomia e poder eram controlar o povo.

Eles então criaram a desculpa de heresia e mataram milhares de mulheres (das cercas de 100.000 pessoas massacradas na caça as bruxas 85% delas eram mulheres).

Mas apesar de toda essa ideologia anti-mulher, a posição da igreja contra o aborto não se tornou oficial até 1869, quando o papa Pio IV declarou todos os abortos como assassinatos, e a igreja católica começou sua luta contra o aborto. A data 1869 coincide com o final e oficialização da revolução científica que era outro movimento querendo tirar conhecimento e poder das mãos das curandeiras e parteiras para concentrariam dentro do estabelecimento médico. Não é surpreendente que o estado se posicionou contra o aborto ao mesmo tempo que a igreja.

Nesse período o estabelecimento médico falava que proibir o aborto era necessário para "proteger" as mulheres, porque o aborto era procedimento perigoso...

Mas as razões eram reais eram todas políticas. A revolução industrial começou nos EUA e a Inglaterra estava iniciando a exploração da América Latina e precisavam de mais mão de obra. Nos EUA também o governo temia "suicídio da raça branca " pôr causa que a natalidade estava caindo e o presidente T. Roosevelt falou "temos que manter a pureza da raça, precisamos de mais nascimento de brancos nativos".

Outra razão importante para a proibição do aborto era que o capitalismo industrial crescente precisava de mulher para trabalhar em casa sem renda, ou com extrema baixa renda fora de casa e para produzir a próxima geração. Sem aborto legalizado foi difícil para as mulheres evitarem essas intenções.

Mas as leis contra o aborto não eliminariam a necessidade nem a prática do aborto e no começo do século vinte, alguns lugares começaram a permitir o aborto de novo, pôr causa dos protestos e da resistência das mulheres. Mas essa liberdade não durou muito tempo e pôr causa da grande perda de vidas durante a Primeira Guerra Mundial, a Europa ocidental voltou para a política natalística (contra o aborto), e nos proibindo anticoncepcionais e punindo o aborto com pena de morte.

Nos anos 60 e 70 muitos países europeus e "comunistas" conseguiram o direito ao aborto através de movimentos populares ou da necessidade daquele país Ter mulheres trabalhando fora de casa, mais a maioria dos países do mundo não dão esse direito; o direito ao aborto acessível e seguro, os fatos mostram que as mulheres fazem aborto, como sempre faziam, com ou sem legalização.

A posição contra o aborto mostra mais o fato de ser Ter controle sobre as mulheres do que um interesse na vida, todos os massacres, guerras, pena de morte e assassinatos cometidos pela policia não chamam tanta atenção quanto ao aborto.

Os anti-abortistas falam tanto de proteger a vida, mas não consideram as vidas de milhares de mulheres que morrem a cada ano com complicações na assistência ao aborto, elas sendo pessoas que realmente tem vidas já desenvolvidas vezes tem dependentes que podiam ser deixados órfãos (a grande maioria das mulheres que fazem abortos no Brasil já tem filhos). A pessoa que realmente tem um interesse na vida, também deve considerar as vidas dos menores abandonados, aqueles que não foram desejados ou vieram para mães sem condições de cuidar deles. Quem deseja uma vida de fome, frio e se sobreviver até adulto, de criminalidade. Provavelmente as mesmas que aplaudiram o massacre no Carandiru e que tem uma posição contra o aborto.

Não é melhor ter filhos só quando podemos lhes dar amor e alimentação? Obviamente, a questão da proibição do aborto não é a vida, como vemos na história do aborto, e sim uma questão política de controle sobre as mulheres das classes baixas. O estado usa alas como maquinas de reprodução dependendo de sua s necessidades; pois vemos que as mulheres ricas têm acesso ao aborto seguro (os ricos nunca são submetidos as mesmas repressões que os pobres sofrem). A legalização do aborto deve ser acompanhado com campanhas de informações sobre os anticoncepcionais, sendo esses distribuídos de graça, pois nosso objetivo não é aumentar o número de abortos que podem causar complicações e não necessariamente muito agradáveis para a mulher.

Texto extraído do zine PANDORA














25.9.13

Uma Arte

"Uma arte"
Elizabeth Bishop
Tradução de Paulo Henriques Britto

A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

— Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

Paixão & Medo



"Exatos são os teus olhos
que invadem
E me revelam teu coração
Exata é a cor do teu deserto
A dor do teu deserto
Exatos são teus beijos
que me acertam
E a ti revelam meu coração
Exata é a cor do teu desejo"



A cor do desejo

Ney Matogrosso





(23h)
No rádio, um Blues. A chuva, insistente, cai há horas. É fim de domingo, amanhã tem trabalho.

Faz frio mas não quero me vestir, apenas lençóis.

Senti saudades.

Eu e minhas oscilações...

Certa vez me disseram que uma ideia, fortemente firmada na determinação poderia mudar sentimentos e ações. Eu penso, eu repenso, eu reflito e não vejo solução mais adequada à minha vida do que aquietar essa minha alma apaixonada. Não quero nada demais (eu acho!), quero amar. É algo tão simples e tanta gente que eu conheço fala tanto sobre esse assunto, deve ser algo bem comum pelo mundo afora.

Amar. Apesar de ser um assunto recorrente, confesso que não sei direito o que isso significa. Nunca amei. Já tentei, tentei muito... Como uma tola construí castelos na areia e, quando tudo deixava claro que era tempo de desistir, eu ainda tentei novamente, porque sempre achei que o Amor é capaz de realizar milagres, o meu não foi, percebi que amar só não é Amor, é outra coisa: carência, auto-estima afetada... Qualquer coisa dessas, menos amor. Nunca fui amada. Amar é verbo, é ação e é preciso vivê-lo pra saber do que se trata.

Paixão é outra coisa, é algo percebido pelos sentidos, da carne e da alma. Paixão são reações químicas geradas pelo cérebro, facilmente interpretadas pela inteligência e, em geral, satisfeitas com muito mais facilidade. É biológico. Não é tão difícil assim de discernir.

Ando cansada, já faz um tempo. Cansada de ter que me negar coisas tão simples e que me fazem tão bem. Esse cansaço não é de agora é de muito tempo atrás, há muito tempo que cansei de ter medo, de não ser eu mesma. Depois que percebi que com um pouco de coragem e aceitação eu poderia ser feliz, verdadeiramente feliz, não desisto disso por nada nessa vida. Aprendi a gostar de mim e à enfrentar o mundo, e hoje, sem tantos medos, conquistei coisas que antes me pareciam muralhas intransponíveis. Após um longo período de medo e dor, renasci.

Tornei-me uma tagarela convicta e irrecuperável. Sou toda sensações, cada sentido meu busca uma espécie de satisfação, que, inexplicavelmente, quando alcançada perdura por horas, dias... Apenas lembranças de sensações: Um cheiro que não sai da pele, um toque que leva à arrepios, a imagem do corpo nu do ser amado, o som da voz e o gosto da pele. Cada sentido se amplia e fica ainda mais sensível, mais intenso, quando também são estimulados os sentidos da inteligência. Ah! Os sentidos da inteligência! Aquela conversa que nunca acaba, as risadas que surgem e interrompem uma fala, compreender o que não foi dito, o filme recomendado, a música...

Como rejeitar algo tão bom? Com que força eu posso dizer não aos melhores momentos que já tive na vida?! Toda a paz, toda a tranquilidade, todo o desejo, toda a confiança. Faz tempo que não confio em alguém. Não sou muito de confiar - é tudo culpa desse escorpião, eu juro! - apesar disso, eu confio no que ouço, no que vejo, não tenho mais medo de ser magoada, voltei a sentir em mim a força que havia perdido.

Mais corajosa e fortalecida, enfrento, de cabeça erguida e peito aberto, o que virá. Sinto um cheiro bom no ar a minha volta, um cheiro de maresia, de mar do Atlântico em plena primavera, de frescor e sol quente. Tudo se renova e me dá a segurança que necessito para os próximos passos.

A felicidade chegou e estou pronta para recebê-la.
Finalmente!



"Que tal abrir a porta do dia
Entrar sem pedir licença
Sem parar pra pensar,
Pensar em nada…

Legal ficar sorrindo à toa
Sorrir pra qualquer pessoa
Andar sem rumo na rua
Pra viver e pra ver

Não é preciso muito
Atenção, a lição
Está em cada gesto
Tá no mar, tá no ar
No brilho dos seus olhos

Eu não quero tudo de uma vez
Eu só tenho um simples desejo:
Hoje eu só quero que o dia termine bem
Hoje eu só quero que o dia termine muito bem"

Simples Desejo - Ney Matogrosso
Composição: Daniel Carlomagno e Jair Oliveira



http://www.youtube.com/watch?v=i2wEfAQb_eE






24.9.13

Citações

Oculta tua vida, expõe teu espírito. Vitor Hugo

Aborto Legal

Eu não consigo compreender o julgamento pessoal de que a morte da genitora é preferível à do feto. A genitora é mais importante do que o feto, não é natural que a gestante dê a vida por algo ou alguém que ainda não nasceu. Indígenas brasileiras abortavam se estivesse em situação de perigo ou iminência de guerras entre tribos, elas guerreiam junto com toda a tribo e em outro momento engravidam novamente.

O Feto só é mais importante do que a genitora na nossa sociedade, cristã e capitalista, na qual as mulheres não tem direitos de escolha sobre seus próprios corpos e que o sistema prefere a mão-de-obra mais jovem do que a mais velha. Nós mulheres, não somos fábricas de operários para o sistema e nem muito menos posse ou produto para que a sociedade escolha o que faremos com nossas vidas.

Ninguém tem o direito de achar ou não-achar nada quando o assunto é o corpo do outro. As mulheres são livres, sempre fizeram aborto e vão continuar fazendo queira a sociedade brasileira assumir isso ou não. O questão não é concordar ou não com o aborto, a questão é que todos os anos, centenas de mulheres morrem ao fazer aborto ilegal.

Qual a nossa posição sobre isso? As mulheres ricas vão às clínicas particulares e fica tudo bem e as pobres? Não é dever do Estado, à quem essa mulher pagou impostos a vida inteira, atendê-la no pior momento de sua vida?

Eu orei por você...


"One Love!
One Heart!
What about?
Let's get together and feel all right
Give thanks and praise to the Lord
and I will feel all right;
Let's get together
and feel all right"


Bob Marley



O que é mesmo que a gente pode saber sobre o Amor, o que é mesmo que a gente pode especular sobre algo tão desconhecido?

Nunca experimentei o Amor. Digo isso porque para mim Amor é um sentimento minimamente correspondido, esses amores não-correspondidos são invenções nas quais a gente se apega por conta da carência, se apega feito um cachorro de rua se agarra à um osso velho.

Amor é prática, é vivência.

Amor é construído por mais de um. Não me refiro à esse esse amor idealizado, romântico, cheio de mentiras e falsidades mas com aquele Amor , o de verdade, o que mesmo nos conhecendo na intimidade continuam nos querendo por perto.

Só ama quem conhece. Não há Amor quando você sequer sabe com quem está se relacionando. A sinceridade é o princípio básico do Amor.

Não é justo não saber quem está ao seu lado todos os dias, isso tira de você o direito de escolha. Quando vivemos uma ilusão o que pode nos mostrar o caminho que aquela relação irá tomar? Continuamos normalmente com nossos planos sem saber que em poucos segundos tudo irá desabar sobre nossas cabeças. É injusto demais.

Já vi grandes amores chegarem ao fim, amores de longa data e amores recentes, mas todos intensos e cheios de entrega, força e beleza. Cada um em cada canto viveu essas sensações de maneira inteiramente diferente, cada  um sofreu à seu modo, mas todos viram em mim alguém para desabafar... O que talvez não soubessem é que minhas emoções parecem uma esponja. Absorvo o que vejo e o que vivo de outras e com outras pessoas, logo, sem querer sinto um pouco do que elas estão sentindo também. E sofro.

Compaixão não é um dom, é um fardo. Sentir a dor do outro é extremamente cruel, não há nenhuma vantagem nisso, só dor e mais dor. Se é que se pode dizer que há algo de bom é que percebo que a dor de quem amamos diminui consideravelmente quando elas compartilham, quando falam.

Eu não falava e sofri muito por conta disso. Precisamos falar.
Às vezes, precisamos ouvir.
Quando me despeço e fecho o portão, vem tudo de uma vez, posso rever e ouvir cada um, em cada canto, agarrado em sua dor, tudo que ouvi e senti durante o dia inteiro volta, como uma enorme onda, destruindo tudo por onde passa.

Quis ajudar e não pude.

Apenas orei.
Por cada uma e por cada um...

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Orei por você e pedi que sua dor diminuísse, pedi que eu tivesse força o suficiente para te ajudar, orei para que você possa aceitar as coisas como são, possa reagir e volte à ser feliz!

Orei por você e pedi que você se encontrasse, que pudesse olhar à volta e colocar os pés nos chão.

Orei por você e agradeci à força que vi nos teus olhos, pedi que você tivesse, pela primeira vez, a coragem necessária para se reconstruir e, finalmente descobrir quem é você.

Orei por você e pedi que você pudesse ser feliz sem tanta hipocrisia, que você conseguisse experimentar a sinceridade ao menos uma vez.

Orei por você e pedi que você esquecesse o que não te serve mais...

Por fim, orei pelo homem que amo... não pedi nada. Orei e contei (às paredes?) o quanto ele me faz feliz.

Aqui dentro eu achava que sabia o que cada um precisava, imagina! Eu nem sequer sei do que EU preciso. Orei por mim também e pedi paciência e sabedoria. Anda faltando...

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Amor é um pouco disso também, sabe? Amor é esse querer bem, esse querer nada, amor é esse conhecer e admirar no todo, é esse respeito mesmo ciente dos defeitos. Amor é a aceitação de outra pessoa e o desejo de tê-la por perto, mais perto. Dentro. 

Amor é a compaixão na prática, é sentir a outra pessoa mesmo quando ela não está lá... Amar é.. 

Amar não tem manual ou explicação compreensível, não está em cartilhas ou na "multidão de conselhos", não responde a conjecturas. O Amor é naturalmente rebelde, é dono de si e independente das vontades humanas, o amor é força criadora, mola que move o mundo...

No fim, amar não é nada disso e é tudo isso, amor é verbo, ação que não se explica, apenas se sente. Que se danem as muitas verdades, que se danem as definições, explicações, motivos e conceitos. Amar é tudo e nada. Parafraseando Mário Quintana, O Amor tem esse gosto de nunca e de sempre.
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Não sei se há uma divindade que ouça minhas preces e as atenda, pouco importa! O que importa é verbalizar o sentimento e apenas torcer pra ver quem você ama feliz, de verdade!

Eu orei por vocês...
Foi tudo o que pude fazer.
Agradeço, voltei à orar.

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Jah bless.




14.8.13

Votos de Cristal


Teu desejo é que o medo não paralise.


Queria não ter medo. Seguir em frente, deixar que o passado tome conta de seus fatos. Queria conseguir te mostrar como me sinto, te trazer pra dentro de mim e me mostrar pra vc de um jeito que só eu posso me ver. Queria te contar tudo, cada detalhe do meu dia, com hora e local, só pra que vc soubesse exatamente "como" e "porquê" me sinto como me sinto.



Quando estou nos seus braços entrego meu corpo sentindo cada toque teu. É um prazer pro corpo, verdade... São muitos os prazeres do corpo. Entretanto, além destes, há outros.


É através dos sentidos, os cinco, que sabemos e pensamos o mundo.

Sentimos.

Eu sinto.
Sinto teu cheiro e provo teu gosto. Contemplo teu sorriso, danço ao som da tua voz... Me confundo no teu corpo.

Ah! As paixões que os sentidos nos condenam... ou presenteiam?

Queria mais...
Quero.
Quero daquilo que só os sentidos da inteligência podem garantir.
Quero a risada honesta e a palavra fluida.
O desejo contido em vaso de cristal.
Os silêncios transbordando significados...

Olhar e saber, simplesmente saber, que nada vai mudar a certeza de que vc, na minha vida, sempre será algo bom.
Quando penso em vc, sempre te imagino sorrindo, tranquilo. É sempre a mesma imagem que me vem primeiro à memória. Impossível desejar uma lágrima tua.

A paz no caos.

Tem algo em vc que me acalma. Como numa reação química, cada um dos átomos do meu corpo procuram uma nova velocidade, mas leve...
Só de pensar em vc.

Confia no que tu sentes.

É tão difícil confiar em mim mesma depois de tantas dores! Penso que já errei tanto comigo, que não fico mais tão à vontade com meus próprios sentimentos.
Só quero viver. Aprendi a ser feliz com as pequenas coisas do dia a dia. O cotidiano, a rotina...

Assim como não basta à um vaso que seja belo, pois também deve ser útil, eu não me satisfaço com admiração, quero sentir-me necessária.

Não por dependências emocionais, financeiras e quais sejam os motivos pelos quais uns dependem de outros.
Não quero isso.

Necessária.
Como a mão que aquece a outra.
Como o som do mar.
Como a beleza do fogo.

Quero ser capaz de te trazer um sorriso nos dias mais tristes e te deitar em meu colo todas as noites.
Quero poder te fazer feliz.



8.8.13

O Caso do Ocaso




Se, por acaso,
o acaso me encontrar...

Nesse caso,
posso até pensar.


O caso é
que não quero casar.


Só caso
se for no acaso.


Assim eu caso!
Mas só se for no ocaso.




1.8.13

Solitude




"É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade"
Luís de Camões





Dias de solitude.




Dias de experimentar o prazer de ficar só, de ter silêncio e tranquilidade, de estar comigo mesma. Dias assim são raros. Tudo é sempre muito tumultuado, muito cheio...

É difícil explicar às pessoas que nos rodeiam que queremos estar sós. Difícil porque muitos assemelham o "estar só" à "estar triste", o que nem sempre é uma relação coerente. Não estou triste, não mais. Como costumam dizer, "passei a peneira", tirei do meu círculo pessoas que só se aproximavam para sugar e tirar de mim a pouca força que tenho. Não sou tão forte como pensam, diria até que sou bem frágil, nem por isso evito enfrentar meus desafios. São muitos, são tantos que só um pouco de silêncio pode me ajudar a compreende-los melhor, por isso é tempo de solitude.

Ainda assim, como explicar que meu recolhimento é voluntário e como convencer às pessoas que se preocupam de que, mais do que nunca, estou feliz?!

Não é preciso explicar.

Quem me vê se surpreende em perceber que estou radiante! Se não consegui estar bem até agora é porque fui teimosa demais à ponto de ficar "dando murro em ponta de faca", insistindo no que não tem jeito. Admitir que há coisas que não são possíveis de serem resolvidas por nossas próprias mãos é fundamental, toda minha teimosia só me garantiu lágrimas e desperdício do meu precioso tempo. Percebi que esse meu apego às relações pessoais as vezes chega ao ponto de me prejudicar. Em nome de uma amizade fui capaz de tolerar coisas inaceitáveis, em nome de um amor, coisas inimagináveis.

Pela primeira vez na vida, fui chamada de egoísta, foi uma brincadeira, mas confesso que gostei. Fiquei feliz! Parecia que de alguma forma eu estava fazendo algo por mim. Só por mim. Aquilo que poderia ser uma crítica, mesmo de brincadeira, pareceu um elogio. É sempre difícil terminar relações, ainda que sejam de amizade, mas quando assumimos as limitações de uma relação e admitimos que estamos construindo "castelos de areia", percebemos o esforço inútil e nos damos conta de que dedicar nosso tempo à nós mesmas é mais gratificante.

Nos últimos dias um sorriso tem feito morada no meu rosto, o que não é nada incomum, meu sorriso é uma característica pessoal bem marcante... por diversas vezes me questionaram sobre a minha expressão, sobre o olhar pensativo e tranquilo somado ao sorriso insistente. Dia desses saía da aula, e vinha caminhando tranquilamente em direção ao ponto de ônibus, quando alguém, que vinha em direção oposta, me observando, perguntou: "Os pensamentos estão bons, não é?"

Estavam sim.

Estou vivendo para mim, pela primeira vez! Isso, além de novo, é assustador... Há momentos que não sei bem como continuar, que me perco, me confundo, me entristeço. Mas a coragem é algo que nunca me faltou. Aprendendo a me amar, descobri que preciso também aprender a me defender, por respeito próprio. Não acredito no amor-próprio de quem não se defende.

Tenho me sentido feliz e cheia de expectativas com minha vida profissional e acadêmica, recebendo o carinho e o respeito de pessoas por quem também tenho carinho e respeito, minha família também está bem e, como um sol que vai nascendo, tenho recebido, diariamente, mimos e afeto de quem sempre esteve em meus sonhos mais distantes.

O quadro é uma obra que pinto de mim mesma: sozinha em casa - na minha casa, andando nua, ouvindo música velha, assistindo filme velho (adoro coisa velha!), escrevendo, lendo, comendo jujuba (o alimento dos Deuses), me divertindo com meu pequeno zoológico, me redescobrindo, me encontrando... Depois, uma taça de vinho, uma fatia de queijo e eu, só eu.

Feliz, enfim.


"Get up, stand up
don't give up the fight!"

Bob Marley





29.7.13

A árvore dos amores


Amora minha,
que de amores vinha,
tão cheia da esperança
de quem nunca desistiu
em provar o teu doce.

Foram tantos os amores
que o machado devastou!
Espera e regenera
que o tempo da colheita
não tarda em chegar...

Resiste e persiste
na insana insistência
de quem teima
[com paciência]
do amor provar.