28.11.13

Lulu. Um aplicativo para mulheres?



"Quando nascemos
fomos programados
A receber o que vocês
Nos empurraram com os enlatados
Dos U.S.A., de 9 às 6.

Desde pequenos nós comemos lixo
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo
em cima de vocês"

Geração Coca-Cola
Legião Urbana


É uma pena que muitas pessoas desta geração não reflitam mais sobre nada, engulam tudo que é importado, principalmente o que é norte-americano. O aplicativo Lulu, tão defendido pelas garotas é mais uma dessas porcarias americanas que tem como única intenção VENDER.

É só um produto, mais um...


Um produtor opressor, que trata o ser humano como objeto, passível de ser classificado, pontuado, definido por palavras de baixo calão. As usuárias do aplicativo para celular referem-se aos homens em aspectos sexuais e comportamentais da forma mais vil, comparada às práticas que o Patriarcado vem impondo à nós desde sempre, tudo aquilo que sempre questionamos, que sempre nos ofendeu, hoje é usado contra os homens. Será mesmo que esta é uma ferramenta útil na luta contra a violência de gênero? Me pergunto em quê um aplicativo como este pode contribuir com a nossa vida. E, se é inútil, porque continuar a utilizá-lo?! A geração que não reflete continua caminhando em direção o abismo da ignorância e apatia...


As mulheres brasileiras precisam sim de um aplicativo só pra elas, um que seja sigiloso e seguro, com intuito de denúncia onde nós possamos alertar as outras mulheres sobre os muitos estupradores e espancadores que estão entre nós, disfarçados de bons garotos.

Gatas, falar de como o boy é na cama não nos faz seres humanos melhores ou mais fortes. Somos muitos mais que isso. A tecnologia deveria ser uma ferramenta para que nós ao menos tentássemos compensar os últimos 5.000 anos de Patriarcado, de dominação, exploração e abuso. Nós só a utilizamos como lazer. Sempre achei que o lazer era o descanso de quem produz, nesse caso o lazer é apenas mais do mesmo, é ócio improdutivo, hoje a inutilidade humana chegou à níveis surpreendentes.

Precisamos, com urgência de Valores, de Amor e de uma luta COERENTE pela Igualdade e não de mais um produto que só vai fazer de nós marionetes do mercado e intensificar a "guerra dos sexos" que dá tanto lucro ao mercado.

Atenção mulheres, cuidado para não continuarem se entregando à opressão por vontade própria, ou seria apenas alienação mesmo?

Pobre Luluzinha, virou referência para algo tão sem sentido, logo ela...

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[Sobre o aplicativo: O aplicativo mais quente e que é sensação nos EUA chega ao Brasil! Faça download do Lulu em português para avaliar os caras que você conhece. Mais de um milhão de garotas nos EUA usam o Lulu para fazerem decisões mais inteligentes sobre garotos.

Tudo que as garotas fazem no Lulu é privado e anônimo. Sua atividade no Lulu jamais irá parar no mural de alguém no Facebook ou nas mãos do cara que você está a fim.

Características

· Avaliações: Leia e crie avaliações anônimas sobre os garotos da sua vida: amigos, caras que você está a fim, ex-namorados, etc. 
· Favoritos: Você pode Favoritar seus garotos preferidos, e nós iremos notificá-la sempre que eles tiverem deliciosas atualizações no Lulu.
· Explore: Confira os garotos da sua faculdade ou busque por caras com qualidades que você está procurando (garotos engraçados, doces, que tenham um beijo incrível…).
· Dear Dude: Receba conselhos para encontros na seção “Dear Dude”, de um cara super honesto e divertido que entende do assunto.]






27.11.13

Eu sou neguinha!

“Nascer negro é consequência.
Ser é consciência”.

Sergio Vaz, poeta.


Novembro termina sob ameças de ser pintado de azul, mas o novembro será sempre Negro apesar de Zumbi ser homem... Os homens que se cuidem, porque os negros nunca desistiram de lutar.

Vocês sabiam que sou negra? Não me lembro de ter falado sobre isso antes mas, pra quem ainda não sabe, "eu sou neguinha"! Não falo porque não acho que cor de pele seja algo relevante quando o assunto é gente. Gente é bom de toda cor e se fosse colorido seria melhor ainda, eu mesma queria ser vermelha com listrinhas amarelas e manchinhas verdes, mas nasci assim, com pouca melanina e muita adrenalina.

Frequentemente me corrigem:
- Você não é negra, menina! É tão branquinha...
- Dá licença...

Não é você quem vai me dizer o que sou. Eu sou o que sinto e ponto.

Acho um desperdício essa mania que algumas pessoas tem de ficar definindo o que pode e não pode. Para mim, isso é racismo velado.

Sou negra e sempre me corrigiram afirmando que, no máximo, sou "parda" ( num sei nem o que é isso...) em virtude do meu tom de pele. Sinto muito pela ignorância alheia, mas qualquer racista que olhe pra mim vai discordar automaticamente de minhas compatriotas que afirmam que sou "tão branquinha". Sou negra e faço questão de me afirmar enquanto NEGRA.

Sinto e sei que vou sentir a vida inteira o peso do racismo. Só eu sei quantas portas de emprego se fecharam para em seguidas terem seus contratos assinados por loirinhas de cabelo liso (chapinha? não importa). Lembro com tristeza das famílias dos namorados brancos que tive fazendo cara feia quando eu chegava e dos comentários que "sem querer" ouvi. Lembro de tantas coisas que preferia esquecer e que se não fosse a força da ancestralidade de meu povo, garantindo dentro de mim a força necessária, eu não teria conseguido. Um toque de afoxé certa noite me deu a esperança que precisava pra continuar, pra me sentir bonita, para ter coragem de encarar o mundo, sendo como sou: Uma mulher negra.

As pessoas costumam confundir alhos com bugalhos.

Estátuas brancas de Iemanjá são uma afronta, mas uma branca de turbante, não. Dizer que ela está
 se "apropriando da identidade negra" é excesso e um certo racismo. Não é possível se apropriar da identidade negra, isso é sentido, vivido, é doloroso e majestoso. Tá no sangue. Não podemos dizer o que as pessoas brancas podem ou não podem usar, oxalá pudéssemos todas nós nos vestir como bem entendemos sem discriminação. Não preciso da sua tolerância, só quero de volta a liberdade que me tomou. É minha, terei de volta.

Queria que todas e todos pudessem usar o cabelo que acham bonito, usar a roupa que queremos, enfim, ser quem somos. Sem a mídia ou as intelectuais pra dizer o que é certo ou errado.

Sou importunada pelos negros cotidianamente por ter um tom claro na pele, discriminada desde a infância pelos brancos por ter os traços dos negros…. Sinceramente, deixem-me em paz!

Sou negra porque quero ser, me olhei no espelho e percebi o óbvio, aquilo que os negros racistas teimam em não querer ver. Eu escolhi ser negra, mesmo já sendo.

Sinto dentro de mim a ancestralidade do meu povo e ninguém vai me definir, eu não preciso. Uso turbante e cabelo crespo porque sou bonita assim, pinto meus "beiços" e vou pro afoxé, ergo meu punho de pele clara e vou pra rua, para o enfrentamento com quem não aceita o diferente. Quem vai me impedir? sou o que quero ser e tenho orgulho.

Como diria o irmão Martin “I have a dream…”

7.11.13

FelizIdade




Quero um relógio.

Mas pouco importam as horas...
Quero ser Senhora do meu Tempo
ver passar segundos à contento
no alento da certeza
que a Fé não enganou.

Lá fora, no Jardim, a Amora

é adornada como Iroko.
Meu tempo já não vai embora...
Quero, de hora em hora,
poder vê-lo passar.

No braço, quero o abraço do orixá.

No compasso dos ponteiros
ver o mundo inteiro se afastar
pra brincar de ser criança
e na dança de ciranda, cirandar.

O Tempo, esse Senhor,

trouxe o Poeta Amado,
desejado dia a dia
na melancolia do passado.

Ando na vontade infinita

da bendita felicidade.
Noutros tempos andei
pelas ruas da cidade,
sem saber das horas
nem entender essa demora
da sonhada Liberdade.

Hoje, acabou bem na hora

e ontem foi um sonho ruim.
É do amanhã que Tempo fala:
Da sala cheirando à café,
da solidão que chegou ao fim.