29.7.19

Tempestades

"Teu cheiro agorinha veio e me acertou em cheio"...
Luiz ergueu o braço com dificuldade e desligou o rádio, Validuaté era sua banda predileta, não a dele, a dela. As muletas estavam encostadas no pequeno sofá maltratado pelo tempo, Luiz olho-as por um tempo, parecia distante e irritado.
Como um malabarista no sinal, sacou rapidamente as muletas, ergueu-se com certa dificuldade e foi até a varanda. A luz do sol batia a pino denunciava as horas, meio-dia, o asfalto parecia derreter sob o calor do verão da capital. Era janeiro em Teresina e tudo se curvava ao esplendor do astro rei.
A cidade era teimosa, dizia Luiz, inconformado com a ausência de mar numa capital nordestina. Àquela altura do ano, fins de março, sua terra teria o que seus conterrâneos chamavam de "clima de ar-condicionado". Tempestades são comuns em qualquer cidade banhada pelo mar