31.8.11

Livre!



"Ninguém nasce mulher, torna-se mulher".
Simone de Beauvoir




Passei uma semana infernal.
Exceto por um episódio (seria justo chamar assim?), mas deixemos este para outro post...

No mais, foram seis meses terríveis! Seis anos estranhamente vividos...
Hoje. Nem amanhã, nem mês que vem. Hoje tudo se resolverá.

Todo o choro e insegurança desta manhã, agora é alívio, leveza, tranquilidade. Me incomoda bastante saber que minha felicidade está atrelada à tristeza de alguém, não era essa minha intenção, aliás, minha intenção sempre foi a melhor! Não me sentirei culpada por estar feliz, livre de todo o mal que me afligia, não me sentirei culpada por rejeitar o papel de vítima, agora sou protagonista de minha própria história.

Ter o direito de ir e vir, o direito à me expressar, ouvir meus LP's, ler meus livros, receber minhas amigas e amigos, essas e outras alegrias agora tem um sentido real para mim. Quantas vezes pensei: logo eu? Eu sabia que aquilo tudo era errado, como é que eu permiti?!?! Demorei muito até entender que eu não tinha culpa, apesar de estar extremamente magoada comigo mesma por ter permitido que alguém agisse daquela forma comigo, com o tempo eu pude entender que há em nós uma história anterior a nossa história pessoal, e, quer queira, quer não ela tem sobre nós um poder muito grande!!!
Antes de ser qualquer "ista" eu já era mulher e já tinha em minhas costas todo o peso carregado por todas as outras. Uma cultura me oprimia à cumprir papéis sociais definidos muito antes que eu sonhasse em nascer. Na inocência (ou quem sabe arrogância?) da minha juventude acreditei que comigo seria diferente... E como são muitas as ilusões aos 20 anos! Tantas certezas! Um castelo de cartas...

Certa vez meu pai me disse o seguinte: "Você é uma sobrevivente". Fiquei tão chocada ao perceber que aquele homem, que tinha me feito tanto mal, sabia, tinha consciência do tanto que eu tinha sofrido. Meu pai e eu jamais conversamos sobre o assunto e isso me incomodava severamente, só que no dia em que ele me disse isso, foi como se tudo, tudo mesmo que ele fez tivesse sido jogado no lixo. No fim das contas eu entendi que eu não precisava de retratações, queria apenas que ele soubesse o que fez. Depois daquele dia, amar meu pai já não era uma coisa tão ruim.

Mas, e o outro homem? Aquele que recebeu o melhor de mim e deu o pior de si? Eu precisava vê-lo diante de um juiz.
Não por vingança. Ao contrário do que dizem, o escorpião não ataca, apenas se defende. Fez-se necessário tudo isso para que ele entendesse todas essas coisas, e ainda assim me dói vê-lo chorar! Consciente de que não sou culpada nem da minha dor e nem da dor dele, dou prosseguimento à MINHA vida e volto a me reconhecer na imagem refletida no espelho, antes completamente oposta e agora, dia após dia, cada vez menos embaçada, cada vez me enxergando mais e mais.

Penso em cada mulher, vivendo o que vivi, e sofro por elas, e torço por elas. Meu desejo é que elas tenham o que tive: Apoio. Conforto. Coragem. Amigos. Amor.
O que seria de mim se Lila não tivesse dito "Eu vou até aí, agora!"
Se Paula não dissesse "Eu estarei ao seu lado independente da decisão que você tomar..."
Se Lia não me perguntasse "O que eu posso fazer pra te ajudar?"
Se Nana, minha irmã, não me abraçasse e me fizesse carinho enquanto eu chorava?
Se Marina, minhã mãe, não me desse abrigo?
Se Edu, não me desse o norte, a esperança?
Se John não se indignasse?
Se Marcos, meu pai, mesmo sem saber de nada, não reclamasse?
Se Cida me aconselhasse?
Se Socorro não pegasse em minha mão?
Se Estela não estivesse lá?
Se Leo e Aline, meu irmão e sua esposa, não tivessem aberto suas portas pra mim?
Se Dadal, não tivesse tido paciência?
Se Rosi não me colocasse contra a parede?
Se João não tivesse aberto o coração com suas dores e confortado a minha dor (mesmo sem saber)?
Se Cybelle, Kamila, Éllida, Bruno, Cris, Zaqueu, Dinho, Patrick, Andréa, Suzete, Janine, Alice, Priscila, Davi e tantos outros não tivessem me recebido em suas vidas, quando eu não me sentia parte de lugar algum?

Não sei o que seria de mim sem eles. Tive sorte. Fui amada. Mas sei que muitas estão tão sozinhas e uma coisa eu sei sobre elas, elas têm a si mesmas e isso basta! Há força nelas embora não vejam.
Sem evitar os clichês: Ame-se!

Quanto à ele, não tenho mágoas, sei que já está sofrendo o bastante, para ainda ter que conviver com minha raiva. Não tenho raiva, tudo está em paz agora. Desejo sinceramente que seja feliz e siga sua vida, de uma forma nova e digna.

Vou dar uma festa!
Dirão que não é de bom tom. Que é de mau gosto comemorar um momento como este.
E o que eu direi?
Só respondo àquilo que dou ouvidos, e este, definitivamente não é o caso.
Agora eu sou livre!!!


"Livre... livre como um pássaro!"
 Banda Pé de Côco




25.8.11

Aquele post...


"Socorro!
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate
nem apanha
Por favor!
Uma emoção pequena,
qualquer coisa!
Qualquer coisa que se sinta...
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva..."

Socorro



"Coisa de menino criado por vó..."
Vai saber.

Só sei de uma coisa: tem um sorriso que teima em não sair do meu rosto e fazia tanto tempo que eu não sorria...

Às vezes é necessário desenhar para que alguém entenda alguma coisa e quase sempre essa é a pior solução, se alguém não entende sequer as insinuações da paquera imagine se vai entender as peculiaridades e nuances que há em uma pessoa. Mas eu sou teimosa e teimo até conseguir o que quero, mesmo que nem seja o melhor pra mim...

Foi botar os olhos naquele sorriso largo, ouvir aquela gargalhada sem vergonha, a voz suave contando histórias malucas, que me encantei e dali à pouco eu já olhava descarada e diretamente nos olhos dele. Foi assim que eu em poucos meses de convivência estaria incrivelmente atraída por um ilustre desconhecido! Depois, foi como podia ser. Eu o encontrei algumas vezes, por aí, nada demais, até descobrir mais, saber das coisas que sente, e concluir que ele é mesmo tão interessante quanto pensei.

Nesse processo de me reencontrar, no qual o blog só me ajuda, sei o quanto cada nova sensação é importante, como cada registro desses e cada publicação me devolve a pessoa que fui um dia, tornando-me mulher a cada dia, a cada nova experiência.

Ao me divorciar sabia que paixão era coisa antiga, que há muito tempo não sentia, e como viver sem isso? Acreditei que, apesar de não conseguir me apaixonar mesmo por alguém, do ponto de vista prático, o que seria mais "prático" à fazer seria começar um relacionamento sem tantos arroubos assim. Mas como? Partindo de onde? Não havia NADA dentro de mim, então como me relacionar com alguém se eu era incapaz de sentir algo como confiança, por exemplo? Difícil tarefa...

O menino-criado-pela-vó é aspirante à poeta. E como são belos os poetas! Tenho uma queda por poetas, todo mundo sabe disso... Há muito tempo tenho procurado o meu Poeta, talvez um dia, talvez, quem sabe, talvez ele...

Mesmo "estando" com outra pessoa, sempre que eu o via era um encantamento misturado com ansiedade, a respiração não ajudava e por dentro: frio! Se eu pudesse, o pegaria pelas mãos e sairia... só voltaria muito tempo depois.

Doces ilusões, meninos-criados-por-vó, são meninos criados por vó... São meninos, mesmo assim, mergulhei de cabeça. E que doce mergulho... Como foi bom me sentir viva novamente, sentir carinho por alguém era algo do qual eu sentia muita falta, transbordante que sou, não consigo ficar assim sem nada dentro de mim!

Receber o carinho que ele quis me dar (e foi muito, viu?!) foi algo que fez com que eu me sentisse e mais mulher outra vez, ser tocada, com desejo, por alguém que eu admirava era a coisa mais afrodisíaca que já pude experimentar.

Noite maravilhosa, que manhã incrível!
Inclusive acho bom ir logo botando um limite para o número de "incríveis" que escrevo neste post, porque essa palavra insiste em ficar atrelada à ele.

Que pena esse blog não ser de conteúdo adulto, porque eu teria material para uns vinte posts. (rs)

Valeu à pena.
Despedidas, chuva sobre nossas cabeças, ele se foi. Todos ao meu redor estavam incomodados com a chuva.

E eu?
Eu sorria...





"Há uma inocência na admiração:
é a daquele a quem ainda
não passou pela cabeça
que também ele poderia
um dia ser admirado"
 Friedrich Nietzsche