16.1.14

Rolêzinho Alienado



Detesto Xópim e algumas "Lutas" são, no mínimo, curiosas.

Não é de hoje que a sociedade civil anda questionando as posturas dos Centros Comerciais, conhecidos popularmente aqui na Colônia como "Shoppings". Um centro comercial é um centro comercial e só. Não é uma área de convivência.

Nunca entendi a motivação de algumas pessoas em ir passear no "Xópim", "ver as lojas", etc... As "Praças de Alimentação" destes estabelecimentos parecem verdadeiras cocheiras onde um monte de animais da espécie humana, comem uma comida ruim e artificial como o próprio ambiente, enquanto fazem, em uníssono, um barulho indigesto e ensurdecedor. Toda essa "diversão" acontece depois de longos passeios por infinitos corredores com iluminação artificial, plantas artificias e gente artificial. Quando podem, compram. As compras são, em geral, produtos feitos por escravos cearenses, bolivianos, chineses... produtos que custam R$ 0,89 mas que o consumidor final paga R$ 200,00, porque o adquiriu dentro de um "Xópim", para piorar ainda repetem a clássica frase: "É de marca!". Que bom...

A colônia e os colonizados continuam desejando ser patrão, ser opressor. Continuam achando que "melhorar de vida" é poder passear no Xópim e ter IPhone. Me disseram que "quando a favela descer os poderosos vão tremer", pena é que a alienação é geral. A favela quer mesmo é subir, quer ser igual à elas e eles, esses aí, os que nunca sentiram frio, os que não sabem o que é não ter um pão dentro de casa, os que estão "acostumados com sucrilhos no prato". Não sou dessas. Não sou de Xópim.

Não me envergonho de ser pobre. Cresci no Bairro São José, às margens. Às margens do Rio Jaguaribe, às margens do Xópim, às margens da sociedade... A padaria mais próxima era a das Lojas Americanas, dentro do Xópim. O segurança olhava a menina da favela, de sandália havaiana (no tempo que sandália havaiana era coisa de favelado, hoje é coisa de Xópim), cabelo pixaim e fazia o que mandavam: seguia. Todos os dias. Ele sabia que eu ia comprar pão, mas sempre me seguia, era a norma do Xópim: Seguir os favelados.

Certo dia fui comprar pão no Xópim e vi, no saguão, uma enorme maquete de como ficaria aquele empreendimento depois de uma grande reforma, nem mesmo prestei atenção no prédio da maquete, a única coisa que me chamou a atenção foi que, ao lado da maquete do Manaíra Shopping havia apenas um rio (limpo!) e um vale. O bairro São José, meu lar, não estava na maquete e nunca estaria, nós éramos a sujeira, éramos os indesejados, não fazíamos parte da cidade. Eu era criança e nunca mais entrei no Xópim. Passei mais de 10 anos da minha vida evitando aquele lugar. Evitando aquela humilhação.

Eu não preciso do Xópim, nem pra dar um "Rolezinho". 

Algumas amigas, ávidas por uma oportunidade de emprego, foram até lá, de currículo na mão e coração cheio de esperança pois, como eram vizinhas acreditavam ter mais chance, até porque o empregador economizaria com passagem. Lêdo engano. Eles não contratavam favelados. Mas isso era naquela época! Hoje tem favelado trabalhando no Xópim, "o Sistema dá oportunidade à todas as pessoas", é só querer! Podemos ser faxineiros, cozinheiros e até seguranças! É um privilégio...

Os "lelekes", são pobres como eu e tem, em sua maioria, cabelo pixaim como o meu, e, assim como eu, não tem grana na carteira. Querem dar um Rolêzinho porque as cidades esqueceram deles, fizeram planos e simplesmente os apagaram da paisagem. Eles não estão lá. O Xópim não os quer lá.

Tudo isso é muito previsível o que não é previsível e também é quase intragável é uma sociedade se organizar para debater a liberdade de acesso aos Xópins.

Que se danem os Xópins e seus empresários. Seu lucro e sua exploração. Eu não quero ir ao Xópim porque lá é uma grande senzala onde comerciários trabalham até 12 horas/dia, onde ricos-ladrões vão para esbanjar sua grana e preencher os vazio de suas almas e onde a classe mérdia compra status social parcelado em 12 vezes sem juros.

A colônia Brasil mantém um apartheid obsceno e enrustido, vergonha para qualquer nação, mas confesso que não estou disposta entrar no front de batalha para ter direito à entrada no Xópim. 

Quero ter direito à Praças, Centros Culturais e Esportivos, Teatros, Cinemas e Bibliotecas.

Os Centros Comerciais precisam de regularização, ponto. Não é possível que estes ambientes estejam acima de tudo e de todos e que possam fazer dalí um covil de discriminadores, racistas e homofóbicos. É preciso exigir que estes estabelecimentos tenham responsabilidade social e comprometimento com o bem estar de seus frequentadores, como por exemplo a obrigatoriedade de montar um pronto-socorro para evitar episódios como o do cliente que, vítima de um AVC, foi jogado na calçada do Manaíra Xópim, enquanto esperava o SAMU chegar e morreu.

Quero ser tratada como gente. Gente de verdade, que sente e pensa. Meu valor para o mundo não está no que visto ou consumo mas em minhas atitudes, pensamentos e sentimentos. Sou muito mais do que uma marca. Sou favelada e sei o que é sofrer, sorrir e viver de verdade, não preciso de Xópim.

***
Sinto saudade dos cinemas no Centro da cidade...







7.1.14

Feliz Ano Bom!

[ou Da Política que queremos]



Começamos o período de 2014.
Meu desejo é o de um ano de muito aprendizado e fortalecimento de valores.
Parafraseando Caetano, pergunto à vocês "O que quer, o que pode esta Juventude?"
Que Política queremos?
Por diversas vezes estive à sós com algumas das pessoas que colaboram no mesmo agrupamento político que eu e perguntei-lhes sobre seus sonhos e objetivos, boa parte não soube o que responder.
É muito triste quando se percebe o quão perdida está a Juventude de um país e, a partir disso, se percebe o porque de uma nação como o Brasil estar tão entregue aos desmandos dos politiqueiros de plantão. A Juventude brasileira vive um momento curioso, as "Revoluções de Junho" e os "coxinhas" mostraram o que já sabíamos: questionamos o que não conhecemos, mais uma vez somos feitos de "massa de manobra", mais uma vez somos apenas números.
O que queremos? Empregos na Administração Pública? Liberação financiada por parlamentares-de-rabo-preso? O que queremos afinal?
Eu sei o que quero. Quero construir dentro de mim valores morais e políticos que me ajudem à entender e a contribuir com o meu país e com o mundo em que vivo. Sou pobre e não tenho vergonha disso, preciso de emprego e de salário, como a grande parte de nós, tenho apenas alguns fins-de-semana e, talvez algumas noites para dedicar à Política, mas não à essa política partidária, estéril e frígida, na qual estamos imersos até o pescoço.
Quero a Política, aquela que pensa a Pólis, aquela que quer mudar o mundo e fazer dele um lugar melhor pra se viver.
Sei também o que NÃO quero: Não quero Atas manipuladas para "tentar driblar o sistema", não quero acordo, não quero aliança, não quero politicagem. Perdoem se pareço reacionária, não falo assim porque me acho melhor que as outras pessoas, apenas por um ponto de vista estratégico que me fez perceber, que este caminho "escolhido" por nós, não agregou em nada! Só fez de nós MAIS DO MESMO.
Quero MAIS! Quero fazer da minha militância como aprendi quando adolescente, com o exemplo do próprio Partidos das Trabalhadoras e Trabalhadores, quero conhecer minha comunidade, a menina da padaria, o rapaz do posto de saúde, a tia da tapioca... Quero saber quem é o povo pelo qual eu "digo" que luto. Seus sonhos e suas dificuldades.
O pouco que dou é muito mais do que muita gente já sonhou em oferecer. Não preciso estragar minha vida, passar fome ou andar quilômetros à pé para fazer Política, o que faria sem reclamar se realmente fosse preciso. Estou cansada dessa visão romântica de militância, isso não é e nunca foi verdade.
Preciso me formar antes de sair por aí falando bobagem, preciso conhecer e conviver com meus pares e, principalmente, entender que militância é uma obrigação que tenho comigo mesma, por minha consciência.
Quando denuncio uma violência contra uma mulher, contra uma criança ou um animal estou fazendo política, quando me informo sobre o que acontece, estou fazendo Política. Quando me importo com as outras pessoas estou sendo, também, uma pessoa política.
Estratégias alinhadas, reconhecimento, espaço... Isso tudo é uma grande, uma enorme, uma tremenda bobagem! Não teremos isso, nada disso. Ninguém que se importe com um pobre terá espaço ou reconhecimento e a única estratégia válida é a de ser sincero.
Quem de vocês se importa?
Quem de vocês tem alguma preocupação com algo além do próprio umbigo?
Se houver algum entre nós que pense também no outro, além de si, estaremos no lucro e poderemos fazer grandes coisas. Só não espero (e nem desejo) que estas grandes coisas sejam nomes em executivas, grana no bolso ou status social.
Podemos fazer coisas bem mais importantes e são muitas!
Não abandonei o MAIS e nem pretendo, pouco importa o nome, para mim, onde eu estiver, estarei fazendo Política, pq isso faz parte de quem eu sou.
Se algum de vocês faz parte da Pólis e se importa com ela vamos nos encontrar e ver o que queremos e o que podemos fazer por nós mesmos e por nossas concidadãs e concidadãos.
O meu grande desejo para 2014 é que cada uma de nós descubra para quê veio.
Eu não vim até aqui à toa, e vc?
Você se importa?