14.10.12

(Re)Corte de Machado

"Dedico essas linhas
às bocas que irão morder
minha pele quente."

Eu, num (re)corte de Machado
em triângulos desconcertantes.






Resignação.
Foi essa a palavra que me veio na hora! “Eu sou a cara da resignação!”.

...

Re.sig.na.ção sf. 1. Ato ou efeito de resignar
(-se). 2. Paciência com os sofrimentos, as
injustiças, etc. [Pl.: -ções]

...

Conheço o significado da palavra, mas na hora veio tão espontâneo que fui procurar no dicionário pra ver qual é a dessa palavra intrometida que me invade a cabeça bem na hora da despedida. Enfim, a palavra chegou e ficou, essa invasora. O que se deu depois, qualquer um já sabe como é, aquela palavra engasgada na garganta, que nem o vinho é capaz de fazer descer. Resignação é isso. Odeio me resignar. Detesto aceitar quando as coisas não vão bem ou que eu não posso fazer nada para melhorar.

Os amores não-correspondidos são para muita gente um enorme poço de resignação, falo dos amores não-correspondidos mesmo. Daqueles que jamais serão reais, dos sem-esperanças, daqueles que a gente olha pros olhos do ser amado e vê gratidão por alguém ter tanto amor por ele, amizade como prêmio de consolação, enfado, por estar sempre levando o peso de não corresponder à algo bom e de saber que alguém sofre por ele, e talvez, pena; pena do desperdício de energia de alguém que poderia ser tão feliz se “saísse dessa”. Esses amores não-correspondidos, esses “sem-jeito”, são exatamente aqueles em que a resignação é o sentimento mais digno. De que outra forma seria? Espernear, fazer biquinho, chorar?

Resignar é aceitar, aceitar é parte da minha ideia de amor. Se não aceito, se não convivo com coisas que são inatas não posso amar. Há coisas em mim e em outros que não poderão ser mudadas e/ou melhoradas, há certos traços de personalidade que são nossos. Pronto. Só posso amar a partir do momento em que compreendo isso, se sei, e ainda assim, amo e quero compartilhar então “vamos viver que a vida é curta e a felicidade breve!”. Só assim. Só assim é possível amar. E ser amado.

A palavra tomou conta de mim e, assim como na mente doente de Brás Cubas uma ideia fez de seus neurônios trampolim, na minha, uma palavra (uma reles palavra) se fez rainha e resolveu, à seu próprio gosto, mudar as cores das rosas. Essa Rainha de Copas, a Resignação, palavrinha irritante e com manias de grandeza, em alguns passeios noturnos por esses jardins, decidiu reorganizar sonhos e pesadelos, planos, projetos e os muitos futuros possíveis.

O triângulo acabou e entre nós não há mais um ângulo sequer, paralelas. Proporcionalmente distantes.

O tormento que uma palavra pode nos causar é algo perturbador. O que essa ditadora não sabia, é que já passei por todas as portas, fui grande e fiquei pequena, sentei à mesa para um chá entre os loucos e à noite vi sorrisos de meia-lua no céu. Agora estou mais forte. Do País das Maravilhas, trouxe as Chaves do Tamanho e um pouco de chá para os dias ruins. Depois de tudo passado, um coração ansioso e apaixonado bate com mais força que outros. Resignar-se não será (nunca mais!) uma das minhas opções, e quando não há opções dignas, eu as invento.

Nem fiel solitária, nem louca desesperada. Mas sempre apaixonada, livre.

"Diga a verdade 
ao menos uma vez na vida
(...)
Não fique pela metade
Vá em frente minha amiga
(...)
Destrua a razão
desse beco sem-saída
(...)
Somos os que há de melhor.
Somos o que dá pra fazer,
o que não dá pra evitar
e não se pode escolher."



Engenheiros do Hawaii, "3X4".


5.10.12

Minha flor, meu bebê...



"Gosto muito de te ver leãozinho..."
Caetano Veloso



Tem gente, na vida da gente, que nos faz sentir mais gente.
Tem gente, na vida da gente, que faz todas as outras gentes parecerem tão pouco gente!


Lembro de poucas coisas de quando ela ainda não fazia parte da minha vida, lembro também da falta que ela faz quando vive sua própria vida e me deixa viver a minha... sou tão pouquinho sem ela e quando ela não está aqui meu mundo fica menor, sem graça e sem jeito.

 Minha mãe diz que eu a "criei" mas eu sei, (só não conto pra ela!)  que foi ela quem me criou... Ela me inventou assim como sou. Lembro que quando ela chegou eu deixei de ser tão importante para mim mesma e ela passou a ser tudo, lembro de enfrentar os gigantes para protegê la e de prometer que nada do que aconteceu comigo aconteceria com ela, eu a levava para todos os lugares e queria mostrar o mundo à ela. O que eu não sabia é que o mundo já era dela...


Ela veio alegrá-lo e deixá-lo ainda mais bonito, ela chegou e foi nos ensinando o amor, esse amor do qual ouvíamos falar mas nunca havíamos visto, esse amor do qual ela já parecia ter uma prática incrível, parecia já saber amar tudo e todos, fazia o amor se multiplicar com a facilidade que o vento tem em espalhar meus papéis cheios de palavras pra ela que nunca entreguei, eu a amo tanto que nunca consegui entregar nada que escrevi pra ela.



Ela é uma boba que me escreve e chora quando lê eu sou outra boba que não sei lidar com o amor que tenho por ela. Ela é a única pessoa do mundo com quem eu brigo, grito, xingo e fico amuada, tudo pela certeza de que ela me ama. Não há ninguém no mundo da qual eu tenha tanta certeza do amor, só dela eu cobro e exijo atenção, carinho e chamego  só dela! Os outros... Ahhh! Os outros não me conhecem como ela... os outros não sabem de nada! Ela não, ela me conhece inteirinha e, por incrível que pareça, ela ainda me ama!



Lembro perfeitamente do dia que a vi e percebi que ela já era uma mulher, lembro da aflição que senti ao ver aquela mulher linda vindo em minha direção, aquela mulher forte, inteligente e que tem o dom de deixar minha vida mais leve e feliz, aquela mulher cheia de planos, projetos, amigos e amores, aquela mulher que é tudo que eu sempre quis ser. Fiquei feliz e com medo, porque antes ela era minha e hoje eu sou dela.


Senti medo porque às vezes, ela parece uma pessoa inteiramente nova e me assusto e não sei mais quem é essa menina, sinto medo porque às vezes percebo que ela faz umas escolhas que fiz, boas escolhas, mas não quero que ela seja eu, ela já é maravilhosa e quero que continue sendo assim, autêntica!



Eu a vejo ouvindo as músicas que eu ouvia, vestindo roupas que eu vestia, lendo o que eu lia e tenho medo, tenho medo que esse exemplo que ela segue, o meu, não a faça feliz. Se de muitas formas tentei influenciá-la para o que eu achava que era o melhor, hoje tenho medo de decepcioná-la, mas também sei que ela tem que ser o que ELA quiser ser e não o que eu achar que é melhor pra ela.



Hoje o que mais me faz sentir falta de lá é vê-la andando pela casa, comendo besteira, falando sem parar, arranhando o violino ou se enfeitando toda pra quando o namorado chegar. O que mais sinto falta nela é dela todinha, de chorar em seu colo e pedir seus conselhos inocentes de menina, de quem ainda não experimentou dor alguma, de quem tá cheia de uma esperança inata, que acredita na vida e no amor.




Menina linda, que eu vi chegar, no colo da minha mãe, menina que tirou de mim a certeza de ser só, que veio cheia de beijinhos ensinar que amor é bom e fácil. Uma mulher intensa e forte, que sabe o que quer e não desiste até conseguir...







“Sem pensar em mais nada,
 fecho os olhos para esquecer.
Dorme, menina,

repito no escuro,
o sono também salva.
Ou adia."
Caio Fernando Abreu











2.10.12

Transbordando...


Só dessa vez. Só por hoje...

Hoje ouvi falar de traição e ouvi falar de lealdade.

Sem escolhas à fazer, sem caminhos à seguir, minha vida continua a mesma: um dia de cada vez. O conselho então seria "Carpe Diem"? Pois bem, aquele momento era meu, de mais ninguém e quis aproveitá-lo. Só isso.

Quem dera fosse só isso! Há coisas que se quebram e não se pode consertar, há outras que não se pode evitar. Evitei (tentei e falhei), fugi do que realmente queria, mas nosso inconsciente é traiçoeiro e faz o que bem quer da gente e mesmo que eu mudasse para os Andes, ainda assim daria um jeito de chegar mais perto, porque isso não é uma vontade, é necessidade.

Me sentindo uma cretina, a pior das pessoas, a mais vil e ainda assim há em mim uma sensação que dispensa palavras e me faz esquecer do que não quero lembrar, há algo que vai exigir de mim palavras, muitas delas... o reencontro, o momento exato em que precisarei do pouco de consciência que me resta.

Que tipo de gente eu sou?

Ouvi cada palavra, menos a minha. Ando sempre ocupada com a felicidade alheia, por isso é tão difícil ser feliz; que ninguém se engane, não sou altruísta, apenas gosto de estar rodeada de gente que ri de vez em quando e se eu puder fazer algo por isso, sempre vou fazer. A coisa mais linda da vida é o sorriso no rosto de quem a gente ama (faz muito bem pra gente!).

Egoísta.

Já a culpa é um sentimento ruim e feio que só existe para impedir que as pessoas sejam felizes. Só que nesse caso, não funciona assim. A culpa se encaixa perfeitamente e é o sentimento perfeito para corroer consciências e destruir o que encontrar de bom pelo caminho de quem é irresponsável. Me sinto culpada, fui imprudente com os sentimentos alheios, logo eu que sempre estou cuidando de todo mundo! Descuidei de mim e, de tabela, saí machucando quem não merecia.

O que me inquieta mais do que a lágrima que vi naquele rosto é o sorriso que vi em outro, parecia com o meu, mas só parecia. Eu estava feliz, de verdade. Como à muito tempo não ficava. Depois dos últimos dias tudo ficou tão triste, a graça se perdeu no momento em que tomei algumas decisões que tiraram de mim mais um pouquinho dos meus sonhos e quando penso que perdi de todo, a vida me dá um prêmio de consolação sem comparação. Me dei o direito de ser feliz por algumas horas, só pra saber como é e aqui entre nós, ser feliz é muito bom!

Me sinto mal por que sabem de mim, dos meus segredos. Culpada por estar feliz apesar da tristeza alheia, culpada de ser assim como sou e por não querer nada demais, culpada por só querer isso: A liberdade de poder amar, a liberdade de não precisar me esconder, porque amor não deveria ser proibido, mesmo o "amor não-correspondido", se quem amo me tem amizade, deixa assim, deixa ser o que puder ser. O que não pode é transbordar assim.

Amor é bom, liberdade ainda mais.

Ser adulto é ruim porque a gente aprende que nossa felicidade só pode se concretizar em coexistência com a felicidade dos que estão próximos, ninguém é feliz se magoa outros. Sou adulta desde muito tempo, ando cansada. Tentei desse meu jeito "afastar pra não machucar", mas não consegui, machuquei mesmo, pesado mas não, planejado. De vez em quando a vida resolve umas coisas que a gente não consegue. Não acredito em coincidência.

Tentei escrever uma história com as tintas que sobraram de outra, não funciona, agora tá tudo manchado e não tem muito pra recomeçar. A vida não tem borracha e se tivesse, o que eu faria? Como disse por aqui em outra vez, "na dúvida, não faça!". Por pior que possa parecer, naquele momento não tive dúvida alguma.

Corpo e alma.

 "Me sinto tão só.
E dizem que a solidão
até que me cai bem."
 Renato Russo