No espelho | ohlepse oN


 De mim.








Sempre hesito o que falar de mim,
volta e meia evito,
noutras digo sim
quase sempre tento,
invento,
finjo que esqueci.














Me perdi tantas vezes
e nessa farta desorientação
parti o eixo,
libertei.
















Fui eu mesma

todas as vezes que atuei
e feri a língua,
a nossa,
cada vez que menti.















Não dobra um vento
que não alimente
a tempestade destes tempos.












São levantes, infantes.
Ecos de outros tempos, outros povos.
Renovo da minha terra.
Reflexo de onde vim.


















Não degenero os meus.

Tampouco, me adapto.
Fruto da eterna contradição,
forjada na brasa
dos referenciais ilusórios.














O erro não constrange.
O acerto pouco lisonjeia.
Desde que fiquei esperta,
cada nova descoberta
deslumbra.
















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"No dia em que fui mais feliz... 
eu vi um avião
se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei,
caminho ao longo do canal
faço longas cartas pra ninguém
e o inverno no Leblon é quase glacial
Há algo que jamais esclareceu
onde foi exatamente
que larguei naquele dia mesmo
o leão que sempre cavalguei
Lá mesmo esqueci
que o destino sempre me quis só
no deserto sem saudade, sem remorso... só
sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
só quer me lembrar
que um dia o céu reuniu-se à terra
um instante por nós dois
pouco antes do ocidente se assombrar"

Inverno
Adriana Calcanhotto


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