1.8.13

Solitude




"É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade"
Luís de Camões





Dias de solitude.




Dias de experimentar o prazer de ficar só, de ter silêncio e tranquilidade, de estar comigo mesma. Dias assim são raros. Tudo é sempre muito tumultuado, muito cheio...

É difícil explicar às pessoas que nos rodeiam que queremos estar sós. Difícil porque muitos assemelham o "estar só" à "estar triste", o que nem sempre é uma relação coerente. Não estou triste, não mais. Como costumam dizer, "passei a peneira", tirei do meu círculo pessoas que só se aproximavam para sugar e tirar de mim a pouca força que tenho. Não sou tão forte como pensam, diria até que sou bem frágil, nem por isso evito enfrentar meus desafios. São muitos, são tantos que só um pouco de silêncio pode me ajudar a compreende-los melhor, por isso é tempo de solitude.

Ainda assim, como explicar que meu recolhimento é voluntário e como convencer às pessoas que se preocupam de que, mais do que nunca, estou feliz?!

Não é preciso explicar.

Quem me vê se surpreende em perceber que estou radiante! Se não consegui estar bem até agora é porque fui teimosa demais à ponto de ficar "dando murro em ponta de faca", insistindo no que não tem jeito. Admitir que há coisas que não são possíveis de serem resolvidas por nossas próprias mãos é fundamental, toda minha teimosia só me garantiu lágrimas e desperdício do meu precioso tempo. Percebi que esse meu apego às relações pessoais as vezes chega ao ponto de me prejudicar. Em nome de uma amizade fui capaz de tolerar coisas inaceitáveis, em nome de um amor, coisas inimagináveis.

Pela primeira vez na vida, fui chamada de egoísta, foi uma brincadeira, mas confesso que gostei. Fiquei feliz! Parecia que de alguma forma eu estava fazendo algo por mim. Só por mim. Aquilo que poderia ser uma crítica, mesmo de brincadeira, pareceu um elogio. É sempre difícil terminar relações, ainda que sejam de amizade, mas quando assumimos as limitações de uma relação e admitimos que estamos construindo "castelos de areia", percebemos o esforço inútil e nos damos conta de que dedicar nosso tempo à nós mesmas é mais gratificante.

Nos últimos dias um sorriso tem feito morada no meu rosto, o que não é nada incomum, meu sorriso é uma característica pessoal bem marcante... por diversas vezes me questionaram sobre a minha expressão, sobre o olhar pensativo e tranquilo somado ao sorriso insistente. Dia desses saía da aula, e vinha caminhando tranquilamente em direção ao ponto de ônibus, quando alguém, que vinha em direção oposta, me observando, perguntou: "Os pensamentos estão bons, não é?"

Estavam sim.

Estou vivendo para mim, pela primeira vez! Isso, além de novo, é assustador... Há momentos que não sei bem como continuar, que me perco, me confundo, me entristeço. Mas a coragem é algo que nunca me faltou. Aprendendo a me amar, descobri que preciso também aprender a me defender, por respeito próprio. Não acredito no amor-próprio de quem não se defende.

Tenho me sentido feliz e cheia de expectativas com minha vida profissional e acadêmica, recebendo o carinho e o respeito de pessoas por quem também tenho carinho e respeito, minha família também está bem e, como um sol que vai nascendo, tenho recebido, diariamente, mimos e afeto de quem sempre esteve em meus sonhos mais distantes.

O quadro é uma obra que pinto de mim mesma: sozinha em casa - na minha casa, andando nua, ouvindo música velha, assistindo filme velho (adoro coisa velha!), escrevendo, lendo, comendo jujuba (o alimento dos Deuses), me divertindo com meu pequeno zoológico, me redescobrindo, me encontrando... Depois, uma taça de vinho, uma fatia de queijo e eu, só eu.

Feliz, enfim.


"Get up, stand up
don't give up the fight!"

Bob Marley





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