4.9.11

Do amor


"Não sei amar pela metade,
não sei viver de mentiras,
não sei voar com os pés no chão."
Clarice Lispector



Começassim...

Senhoras e senhores sejam bem vindos ao vôo... Dentro de poucos instantes estaremos nas nuvens!

Por medidas de segurança permaneçam em seus lugares até que os avisos de atar cintos de segurança sejam desligados... Lembramos que de acordo com as normas não é permitido chorar a bordo, nem mesmo nos toilets. (Embora saibamos que esta recomendação não tem sido observada por nossos ilustres passageiros...)

Sentimos informar que, em caso de emergência, máscaras de oxigênio não estarão disponíveis, por isso respirem fundo! Provavelmente a saída de emergência não será uma boa idéia, cabines despressurizadas causam sérios problemas à todos. Os botes salva-vidas não duram o bastante e tem a péssima mania de só aumentar a frustração de seus ocupantes.

Ao desembarcarem, certifiquem-se de que estão levando todos os seus pertences de mão, inclusive o que sobrar de seus sentimentos... permaneçam com eles em suspenso até a sua chegada a um abraço amigo, irão precisar.

Passageiros em conexões para outras localidades, apresentem-se à saudade para providências de reembarque...

Tenham cuidado ao abrir os compartimentos de seus pensamentos mais íntimos... eles podem ter se deslocado durante o vôo.

Sabemos que a escolha da companhia aérea é uma decisão pessoal, obrigada por escolherem voar conosco. Esta tripulação agradece, ama, voa e sonha assim como vocês. Desejamos à todas e todos milhas e milhas de vôos!


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Os riscos são muitos, mas como é bom voar!
Som de turbinas, frio na barriga, uma certa insegurança sobre como será a aterrissagem... O deslocamento no espaço é leve e agradável, além daquela sensação de que o tempo passou tão rápido!
Estar acima das nuvens... e sentir-se tão pequeno, tão frágil! Qualquer coisa pode colocar tudo à perder e ainda assim é uma delícia.

Há aqueles que tem medo de voar, e jamais se arriscam, preferem enfrentar as longas distâncias se arrastando pela vida. Há também os que, mesmo com medo, enfrentam. De outra forma a viagem seria bem mais cansativa.
Por fim, há os que são como eu: Amam voar, e se permitido fosse, voariam cada vez mais alto, cada vez mais rápido, desrespeitando a força da gravidade e a barreira do som. Sairiam da atmosfera, conheceriam satélites, planetas, todo o universo! iriam até onde o amor, esse desconhecido, pudesse levar.

O irônico é que nunca voei.
Quanto ao amor...


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