16.3.13

Pequena viagem à sala de aula.


"Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser."

Thiago de Mello


Em alguns dias volto à dar aula, estava com saudades...

Estar em sala de aula é um momento fora do eixo e do contexto da minha vida, quando estou em sala de aula esqueço de tudo, não há mais eles e eu, somos. Entrar em uma sala e saber o quanto se pode contribuir alí, tendando influenciar, sim! Sem vergonha de ser feliz! Não acredito em educação imparcial. Há que se tomar partido, se estamos inseridos numa sociedade de classes então precisamos ter consciencia de classe, logo, como educadora não me esquivo do dever de compartilhar os anseios da classe trabalhadora. Sei quem sou e cada coisa que acontece em sala de aula é minha  responsabilidade, a responsabilidade é grande mas não como pensam aqueles que "dirigem" a instituição escola, a responsabilidade é grande para quem olha cada momento com aquelas pessoas como um espaço raro de interferir no status quo. É uma grande responsabilidade e eu ainda não sei como fazer isso da melhor maneira.

É um desafio cotidiano, uma vivência totalmente desconhecida, sempre; porque pessoas são o que há de melhor na vida, conviver com elas, trocar experências e sorrisos... Amo meu trabalho. Trabalho burocrático é um trabalho, lecionar é um prazer. Gente curiosa essa racinha chamada de professora e professor, gosto deles, não de todos, mas de alguns em especial, alguns que me mostraram que esse poderia ser um caminho interessante pra mim que queria ser escritora. Ainda quero, só que agora sou menos corajosa do que a menina de 17 anos que não sabia como é difícil viver de literatura no Brasil.

Desde criança, sempre me disseram que estudar era um privilégio, eu não sabia que era um direito. Aquele pai bruto, pra quem nota oito (8,0) rendia sempre o mesmo comentário: "Não fez mais do que sua obrigação" e aquela mãe analbafeta que frequentou o MOBRAL¹ me alfabetizaram antes sequer que eu entrasse na escola. Na favela, ficávamos sem aula no Capitulina Sátyro todo inverno quando os moradores do "Bairro" ocupavam a escola como desabrigados após mais uma "Queda da Barreira", no Brasil dos anos 80.

Um país que tentava sair de uma Ditadura Militar de forma “lenta, gradual e segura”... que tinha nas Diretas, a bandeira pela promoção do processo de redemocratização do país. Nosso povo sonhava com a possibilidade da participação da sociedade civil na escolha de seus governantes, nenhum cidadão suportava mais um país governado por quem só pensava em "cortar custos e aumentar a arrecadação". Hoje, estudar é um direito, logo, Lecionar é um dever. No meu caso, me alegro com essa tarefa revolucionária e vou mais uma vez em direção aos que virão...

Estudar é um direito. Eu, enquanto educadora, garanto um direito à quem estuda, isso é muito bom. Oxalá, em breve teremos um país em que não será preciso que haja um "Representante do Estado", mas que a própria sociedade, como um todo, entenderá na Educação um conjunto de ações coletivas para a vida numa realidade minimamente justa.

Bem vinda de volta às aulas!



"Não importa que doa: é tempo

de avançar de mão dada

com quem vai no mesmo rumo,

mesmo que longe ainda esteja

de aprender a conjugar

o verbo amar."



Thiago de Mello


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¹Movimento Brasileiro de Alfabetização

projeto do governo brasileiro, criado pela Lei n° 5.379, de 15 de dezembro de 1967, e propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando "conduzir a pessoa humana a adquirir técnicas de leitura, escrita e cálculo como meio de integrá-la a sua comunidade, permitindo melhores condições de vida".


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