4.12.12

De quando perdemos


"Eu que já não sou assim
muito de ganhar,
junto as mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
só pra viver em paz."

Los Hermanos




Perder é difícil, mas a lógica é aceitar.


Eu perco coisas o tempo inteiro, perco a hora de chegar ao trabalho, perco o trabalho porque perdi a hora, perco o ônibus que tá mais vazio, perco o guarda-chuva no ônibus lotado que peguei porque perdi o ônibus vazio, perco a paciência porque perdi as chaves dentro da bolsa, perco o chão quando vejo quem amo, perco quem amo...

Nem sempre acreditamos que foi isso mesmo que aconteceu, tentamos e insistimos novamente, só que mais cedo ou mais tarde nos daremos conta de que já foi, já era... Ao menos é assim que funciona comigo.

Quando algo se perde, eu esqueço.



Imagine se ficássemos lembrando e reclamando de cada guarda-chuva perdido ou se fossemos chorar e espernear cada vez que perdêssemos o ônibus! Vasculhar a casa sem parar procurando as chaves, se deprimir pelo amor que não existe mais, tentar inutilmente reconstruir uma amizade falida. Reclamar da barriguinha que perdeu, ninguém reclama!

As coisas se perdem, acabam... são finitas, assim como nós.



Já perdi muita coisa na vida mas nada é pior do que saber de uma amizade perdida nesse limbo da indiferença, sou inocente da indiferença, quando me chateio com alguém sinto tudo menos indiferença, sou raivosa, vingativa, rancorosa. Intensa em tudo, apesar de amar muito, detesto com a mesma intensidade que amo, ainda bem que sou de poucos inimigos... escorpiana que sou, teria trabalho demais!

Dia desses perdi um brinco que adoro [sou louca por brincos!], pronto. Foi o suficiente pra me deixar perturbada o suficiente para refazer meus passos e voltar ao lugar onde dormi, revirar a cama de alguém, e tudo por conta de um brinco [que eu não achei, é claro!]. É simples: perdi.


O problema é que nem todo mundo entende isso e quando o que se perde é uma relação pessoal, tudo se configura com cores mais fortes. Emily Dickson disse algo assim: Meus amigos, meu tesouro. Eu completo: Alguns, ouro de tolo. Evito ao máximo desfazer minhas amizades, tenho algumas que estão comigo por mais da metade da minha vida, já outras não vejo com tanta frequência  mas quando encontro, é uma festa! Algumas poucas e raras pessoas eu fiz questão de excluir da minha vida e dos meus contatos, sou adulta o suficiente para perceber que um relacionamento vai dar problema, o chato disso é a pressão exercida por pessoas que não sabem conviver com quem é decidida ou decidido. As pessoas estranham e afirmam que ninguém pode ser assim como eu sou. Não é que eu nunca volte atrás, é só que quando eu decido me afastar de alguém eu, anteriormente, já tentei de várias formas conviver, avisei e alertei dos problemas quando surgiram e também quando começaram a crescer, levo tempo pra dar um ponto final na coisas, mas quando resolvo fazer, é muito sério e não volta mesmo.


Existe muita tranquilidade em quem costuma pressionar outras pessoas. Detesto ser pressionada. Ainda mais quando a pressão se faz no sentido de aceitar uma situação insuportável como a de conviver com quem nem se quer avistar pela rua. Quem exerce pressão é pra pra mim a personificação da violência, descarto gente violenta.


Sempre vejo notícias de pessoas que, por não aceitar o fim da relação, assassinaram sua parceira ou parceiro, em geral quando isso começa a acontecer, já foram muitas idas e vindas, promessas de "mudar" e outras mentirinhas... tragédia anunciada. Se digo que não quero é porque realmente não quero, não faço charme, não quero que insistam, quero simplesmente me sentir livre de alguém me olhando e dizendo que mudou, que vai me provar o quanto está diferente. Não confio em gente que [diz que] muda, tenho passado a vida inteira tentando mudar certos aspectos da minha personalidade e o progresso que fiz é vergonhoso, como é possível que alguém mude de uma hora pra outra, só pra recuperar algo ou alguém?!



Pessoa que dizem que mudaram tão depressa, estão na melhor das hipóteses, se controlando - pra não dizer fingindo.
Não confio e pronto. Não adianta forçar, não adianta drama. É a MINHA vida e EU escolho com quero conviver. Como algumas amigas e amigos costumam dizer: Perdeu, playboy! Não que eu nunca tenha perdido, já perdi sim, perdi muitas vezes, tantas que perdi também a conta. Só há uma diferença, eu não acho "que perder é ser menor na vida", perder é parte da vida, e quando se refere à alguém, aí mesmo é que não perdi, não posso perder o que não possuo.


Não possuo pessoas, nem as quero possuir. Se alguém não me quer por perto, vou ficar triste, é claro, mas não vou obrigá-la a conviver com a minha presença. Já tive gente insuportável que dividiu comigo o mesmo espaço de trabalho, o negócio nessas horas é ser o mais profissional possível, ser gentil é fundamental, daí a ser amiga ou amigo de novo é outra conversa... É preciso compreender quando não cabemos mais em uma situação e também quando há pessoas forçando a barra, dizer não nem sempre é o suficiente, mas uma conversa bem franca pode ajudar.



Dizer o que se sente é importante, deixar claro para as outras pessoas que elas são ou estão sendo inconvenientes naquele momento de nossas vidas é a atitude mais honesta a se tomar. E dizer o que há pra dizer: Perdeu. Simples assim!



Nem sempre quando uma relação acaba, acaba também o amor, muitas vezes fica uma saudade enorme dos bons momentos vividos, mas a gente sempre sabe quando algo não vai dar certo, e pra que insistir em algo que não tem pra onde ir além do conflito?! Por isso é bom entender que quando alguém se afasta da gente pode ser porque quer bem ainda, quer pelo menos evitar que o estranhamento aumente e chegue ao ponto da raiva e do incômodo. A pessoa que gosta, gosta sempre [ou por muito tempo] mas não é necessariamente obrigada à viver colada à outra, pode ajudar e apoiar ainda que de longe.



O que não deu, já deu. Já era. Acabou. Se foi bom, ótimo. Se não, melhor que tenha acabado. É sempre tempo de recomeçar, mas se é pra dar início à algo prefiro que seja um começo e não um recomeço. Novos ares, novos bares e novos mares nos esperam, vou alí dar um mergulho e volto já... ou não!





"Olha lá quem acha que perder
é ser menor na vida

Olha lá quem sempre quer vitória

e perde a glória de chorar 



Eu que já não quero mais ser um vencedor,

levo a vida devagar pra não faltar amor"
Los Hermanos


















2 comentários:

  1. Que texto agradável, Priscilla. Que coisa linda!! Minha mãe diz que só não perco a cabeça porque ela anda junto comigo. Num sei de onde ela tirou essa ideia. Coisa de mãe. KKK. Um abraço...

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    1. Obrigada! Também perco e me perco direto... Mas mantenha a cabeça no lugar, viu?! Beijos!

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