26.9.23

Desped[idas]

"O nosso amor a gente inventa
pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
que ele nunca existiu"

Cazuza

Inventei pra mim que o laço que uniu Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre era o que havia de melhor nas relações afetivas e sexuais: Imagina só: alguém ao teu lado até o último dia, alguém que te estimula e desafia a pensar mais e melhor, alguém que não te reprime e até apoia que você ame outras pessoas pois sabe que o que há entre vocês é autêntico e forte. Imagina só! 

Imaginei que se eu conhecesse alguém gentil, que me desse uma criança e passasse ao menos uma década ao meu lado, eu teria um sonho realizado. Afeto tem valor muito alto para quem nunca recebeu. Artigo raro.

Sonhei coisas bobas e nem tão bobas assim. Amores românticos e fraternos. Não-monogâmicos e sinceros. Sonhei com respeito. Dormi no teu peito e achei que teu abraço jamais se fecharia pra mim. Errei no básico: Pessoas não mudam, a não ser que queiram. Aceitei o teu erro como se fosse nada. Eu tava errada. Só pensei em ser amada, não me vi no lugar da enganada.

Da primeira vez que me chamou de feia, me assustei. Em público, ruborizei. Nunca te vi assim e sabia que a feiura estava sempre nos olhos de quem vê. Da primeira vez que me chamou de "tapada", alterei, enraiveci. Não aceitei o que sei que é mentira, ofensa pura. Pelos teus olhos, me vi: pobre, fraca e limitada. Quando mentistes, por dias a fio, me vi doente, deprimida e quis morrer novamente. 

Nos teus perfis paralelos, nas muitas curtidas em fotos de jovens mulheres nuas: o desejo de outra vida. Me culpei, me comparei, me apaguei. Como eu poderia ser bela, inteligente e atraente? Como, se me faltam os dentes?! A geladeira vazia, nenhuma conta em dia . Remendo com pouca linha e agulha enferrujada as roupas doadas da nossa filha. 

Se o que nos une é a vida que criamos, dói saber que esta vida é sofrer. Cadê o riso, o gozo? Meu corpo encrua enquanto você olha mulheres nuas. E tudo tem sido uma dor. Meu amor, meu amigo, meu querido... Nada disso faz sentido. Fico procurando formas de fugir da realidade, de aceitar, de me calar. Não posso fazer por ti o que não queres fazer por mim.

É coisa de homem. Disseram. Costume, cultura. É posse? Ciúmes, carência?! É desleixo, relaxo? Um asco, um saco! Tanta dúvida quanto dívida. Um desperdício gigante do meu tempo. Do nosso. O que é isso afinal?! Porque não por um ponto final? Uma criança pra criar, um lugar pra morar? Não pode ser. Só pode ser.

Eu grossa, sequelada, noiada. Pedi ajuda e, mesmo assim, falhei. Amarguei os erros que cometi e desisti. 

Um selinho na despedida é passagem só de ida.




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