16.5.13

Genealogia do cansaço




"Silenciar
é similar à simular,
ou seja, calar 
é da mesma natureza 
que fingir."

Waldemar Gabriel


É tarde.

As ruas estão vazias e eu me deixo levar, quem me leva por elas teima em se arrastar num marasmo sem fim. Tudo parece ir muito mais devagar do que deveria, eu me desloco lentamente e a vida (ao menos a minha) parece esperar. É uma espera atenta, olhos bem abertos, cansaço. Uma espera incessante.

A noite tem um clima gostoso, eu diria até agradável. Um vento quase frio me ilude a ponto de fazer acreditar que ainda é possível esperar um pouco mais. Esperar o quê mesmo? Às vezes esqueço até o que estava esperando, faz tanto tempo que estou assim que, dispersa em pensamentos vagos e vãos, apenas sigo viagem: Agora posso dormir, enquanto espero.

Dormir é melhor que esperar, descanso enquanto durmo e canso enquanto espero.

Ainda espero.



São pontos de vista, pontos de fuga. Fugir tem sido a melhor opção diante dessa inevitável necessidade de saber onde se vai parar. Não posso dormir, hoje há um cansaço maior em mim. O tempo inteiro parece que já chegou o fim mas sei que não é... Já sei onde vou parar, sei bem onde quero chegar, ainda sim parece que é o fim.



Na genealogia do Cansaço, sua mãe é a Longa Espera, o Passado a fecundou,  o Trabalho seu irmão e amante, Fome, sua esposa e ao seu redor brincam suas jovens filhas: as Noites de Bar.

Eu me canso e me calo.

Aprender a calar é imprescindível e ao mesmo tempo extremamente difícil. Calar no mais amplo sentido que a palavra possa sugerir. Palavras. O que é mesmo que ela dizem? As palavras não dizem NADA. Sugerem apenas. Sugerir é o máximo que as palavras conseguem.

"Fica atento ao que não digo" é o que nos alerta o p[r]o[f]eta Leminski. Um profeta do absurdo, um clown, o palhaço triste que cala enquanto a plateia ri.

É hora de fechar as cortinas que dão para o picadeiro, o show acabou. É hora de calar e se calar for fingir que não dói mais, que assim seja.








4 comentários:

  1. Texto incrível! Admiravelmente lúgubre e decisivo. Você... Sempre transparecendo tudo de forma tão clara e sentimental. [...] Adoro mais ainda te ler!

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  2. sem palavras e sem sugestões
    Lila

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  3. Priscilla Marx. Você é uma das minhas amigas "semipresenciais" mais interessantes que já tive.KKK. Sério mesmo. Amei o texto. Um abraço....

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    1. Sempre me perguntei como vc chegou aqui... Só sei que me sinto muito bem cada vez que vejo teus "rastros" pelo meu Espelho. Um grande abraço de quem se já se sente amiga.

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